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Escritor fala sobre seu mais novo romance, segunda parte de tetralogia sobre a Inconfidência Mineira
por Rachel Barreto
O escritor mineiro Benito Barreto lança, no dia 5 de julho, o romance histórico Bardos e viúvas, em que volta ao tema da derrocada da Conjuração Mineira de 1789, tema da tetralogia Saga do Caminho Novo. O lançamento acontecerá a partir das 19h, no foyer do Palácio das Artes, avenida Afonso Pena, 1537, Centro, Belo Horizonte/MG. Nesta entrevista, o autor fala sobre suas posições ideológicas, a interpretação ficcional que fez da história e o papel dos artistas na Inconfidência, dentre outros temas. No primeiro livro, você mostrou o momento em que se desfez a conspiração. Qual o foco deste segundo volume? Ele assinala, sobretudo, a situação de terror implantada na capitania a partir do momento das prisões. Notadamente pelo encarceramento em Vila Rica e pelo envio dos elementos mais importantes do movimento para o Rio de Janeiro, a laço e ferros. Essa caravana sinistra vai assustando a capitania toda e muitas coisas sucedem no seu caminhar, enquanto as prisões continuam sendo feitas.
Você apresenta com impressionante riqueza de detalhes o contexto, as relações e os diálogos em sua narrativa da Inconfidência. Até onde vai a pesquisa histórica e onde começa a ficção?
Benito Barreto: A ficção está na leitura que eu faço do fato histórico. O livro reflete, principalmente, os interstícios da história, aquilo que os compêndios não registraram. A história que nos chega é uma história marcada pelas deformações que necessariamente estiveram na visão do Reino sobre aqueles acontecimentos. O Reino precisava ver a Inconfidência como desordem, loucura. O herói Tiradentes tinha que ser um sujeito usado, não podia ser sequer um cidadão consciente. A visão era: esses homens não querem senão se ver livres de suas dívidas para com a Coroa. São negociantes que não querem pagar o que devem e usaram o Tiradentes, que é um idiota, para ser seu bode expiatório. Ou seja, é uma visão absurda, mentirosa, falsa, criminosa.
Os poetas são figuras importantes tanto do livro quanto da Inconfidência. Você acha que a arte teve um papel preponderante nessa luta pela liberdade?
Benito Barreto: Teve sim. Os inconfidentes eram elementos exponenciais da cultura de Minas e da arte que se fazia aqui, tanto na literatura, especialmente a poesia, quanto na escultura e na pintura, com Aleijadinho e Athayde. Isso mostra que a rebelião foi realizada pelo que Minas tinha de melhor, pela elite pensante.
E hoje, os artistas mantêm essa postura de questionar, de propor novos rumos?
Benito Barreto: Não, infelizmente não. Acho que os artistas estão muito distanciados. Houve um momento no passado, sobretudo no auge da militância no Partido Comunista, em que quase toda a arte no Brasil estava engajada politicamente. Isso vai até ao período da ditadura militar. Mas hoje, com a débâcle da esquerda e do socialismo na esfera mundial, a coisa se reflete aqui de uma forma esmagadora. É raro você encontrar quem ainda defenda posições socialistas, revolucionárias. O fato é que nossa esquerda de hoje está longe de ser vanguardista como o foram os poetas inconfidentes.
Seu livro, apesar de tratar de um momento histórico anterior, reflete também o que você pensa sobre o mundo hoje, suas posições políticas?
Benito Barreto: Sim, mantenho as posições de minha juventude, acredito até hoje que o socialismo terá de vir necessariamente. Pode-se viver, e viver até bem, neste mundo que está aí, mas é uma selva, uma disputa violenta. Você tem que conquistar seu espaço lutando intensamente, ferozmente às vezes. Cada um tem que pisar no outro para subir, para se realizar. Isso significa, a meu ver, que aquele bicho que nós somos ainda não completou sua evolução. Nós estamos a meio do caminho entre o animal, que a cada dia somos menos, felizmente, e aquele homem irmão, fraterno, superior, que a gente almeja ser um dia. E isso só o socialismo poderá nos dar.
Quais as principais referências literárias que influenciaram e influenciam sua obra?
Benito Barreto: Eu sinceramente não saberia dizer. Porque eu sou um escritor sem uma formação específica, eu não sou um acadêmico, todo meu arsenal está aquém desse empreendimento meu que é construir uma obra literária. Mas eu não vou deixar de escrever, e acho que ninguém faria isso, porque não estou preparado. Eu amo escrever, escrever para mim é viver. A tendência de cada um de nós é tentar se superar, é o que acontece comigo. Então, nessa precariedade (risos), fica difícil dizer quem me marca, me influencia preponderantemente. Eu, naturalmente, tenho influencias de tudo que vi, vivi e li, mas creio que nada é assim muito identificável. Acho que sou eu mesmo.
O AUTOR
Benito Barreto nasceu em 17 de abril de 1929 na cidade de Dores de Guanhães, Nordeste de Minas. Além de escritor, é também jornalista e empresário.
Em sua obra literária, destaca-se a tetralogia Os Guaianãs, formada pelos livros Plataforma vazia (1962), Capela dos homens (1968), Mutirão para matar (1974) e Cafaia (1975). A tetralogia, já em sua 3ª edição, recebeu diversos prêmios e teve dois de seus volumes traduzidos para o russo e publicados na antiga União Soviética em 1980, com tiragem de 100 mil exemplares. A obra foi reeditada em dois tomos pela editora Mercado Aberto, de Porto Alegre, em 1986.
Os Guaianãs é uma referência importante da prosa regional brasileira e narra uma heróica história de resistência, tendo como tema principal uma guerrilha rural hipotética nos sertões baianos e mineiros durante as décadas de 1960 e 70. É uma saga moderna, de cunho essencialmente épico, que mostra a fertilidade imaginativa e o vigor estilístico do autor.
Barreto publicou ainda Vagagem (1978), que se apresenta como um livro de “viagens e memórias sem importância”; A última barricada (1993), romance em folhetins improvisados, que reúne colunas publicadas no jornal Estado de Minas e anotações inéditas, em que ainda ressoam temas e personagens de Os Guaianãs; e Um caso de fidelidade (2000), que reflete as incertezas do mundo globalizado e pós-ideológico que se sucede à derrocada do socialismo. Em 2009, publicou Os idos de maio, primeira parte da tetralogia Saga do Caminho Novo.
LANÇAMENTO
O lançamento acontecerá no dia 5 de julho, a partir das 19h, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. O evento é uma produção da Editora Casa de Minas e da Prefeitura Municipal de Ouro Preto.




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