A narrativa do filme é baseada no livro homônimo lançado em 2005. (Foto: divulgação)
O amor é sexualmente
transmissível
por Radha Barcelos*
Faltou
desenvolver melhor o estofo de cada um. O único que ganhou profundidade foi a
Lavínia de Camila Pitanga, perfeita no papel. Certamente nenhuma outra atriz
brasileira teria interpretado tão bem todas as suas nuances e sido tão fiel a
descrição física. Gero Camilo também dá um show como o malicioso Viktor
Laurence, apesar do personagem no filme não ter ganhado toda a dimensão de
figura mítica da região que possui na obra escrita, assim como Chico Chagas.
Faltou o mix de mistério, medo e respeito que circundam esses dois. Outra
adaptação que deixou a desejar foi a do próprio protagonista Cauby interpretado
pelo ator Gustavo Machado. O contraste do homem que está envelhecendo, mas
ainda vive como um jovem desapareceu na tela. Cauby ficou imaturo demais. O
personagem tinha muito mais para dar, foi mal aproveitado.
O
filme não mostra seu valor nem como adaptação, nem como cinema. Na tentativa de
reproduzir a estrutura fragmentada do original, optou-se por cenas soltas
linkadas por uma edição abrupta e portanto, perceptível, porém com o tempo da
trama sendo cronológico (com exceção de um flashback
que ocorre lá pela metade da projeção). No livro, o responsável por esse timing quebrado é justamente o tempo
psicológico, dado pelo narrador protagonista, que se permite ir e vir conforme
seu fluxo mental. Juntamente, claro, com a linguagem contemporânea de Aquino. A
outra questão está ligada ao roteiro. Ele perdeu o senso de acontecimento ao
colocar todas as cenas numa mesma escala de importância, enquanto valorizou
excessivamente as de sexo. No livro existem sim, várias delas, mas há poesia
mesmo nas mais mundanas. O filme parece ter esquecido a parte do “amor” da
máxima do prólogo. E momentos relevantes para o entendimento da trama foram
deixados de fora, como por exemplo, a cena em que eles se conhecem, ou foram
mostrados de forma muito linear como a fortíssima cena do apedrejamento que
perdeu seu clímax. Tudo isso compromete a fluidez visual e narrativa, tornando
os personagens principais superficiais e como conseqüência o espectador não se
envolve com eles, não há empatia.
É
claro que há de se ter a consciência de que literatura e cinema são expressões
artísticas diferentes com linguagens próprias. Mas o livro já é potencialmente
cinematográfico, não era necessário inventar em cima do já inventado. A
linguagem experimental, o sexo e a poesia gratuitos imprimiram no filme um
fardo de cinema brasileiro dos idos anos 80. Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios poderia ter
sido um novo Cão sem dono, contemporâneo até o último fio de cabelo.
Diretor:
Beto Brant e Renato Ciasca
Elenco:
Gustavo Machado, Camila Pitanga, Zecarlos Machado, Gero
Camilo...
Gênero:
Drama
País:
Brasil
Duração: 100 min
(*) Crítica do Jornal Petrópolis em Cena
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