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Aqui é o meu lugar
O excêntrico Cheyenne

             O filme trabalha a todo tempo com a imprevisibilidade. (DIvulgação)
            
             Personagens excêntricos costumam ser cativantes, principalmente entre o público que freqüenta as salas do circuito menos comercial. Tim Burton e seus tipos que o digam. Edward Mãos de Tesoura é queridinho. Para não falar de Os excêntricos Tenenbaums de Wes Anderson que se aproveita totalmente dessa peculiaridade. Hoje em dia, com o crescimento da cultura hipster, eles passaram a ter ainda mais notoriedade. Cheyenne, protagonista de Aqui é o meu lugar, se encaixa nessa categoria. É impossível não se encantar com o ex-astro do rock de meia-idade que, mesmo depressivo e fora de circulação, não deixa de se vestir à caráter.
            Esse encantamento certamente se deve a brilhante interpretação de Sean Penn, cuja composição de Cheyenne não cai na caricatura e ainda consegue oscilar entre o paradoxo de uma personalidade iconográfica, porém de crenças iconoclastas. Assim como o tom de voz baixo, o andar curvado, as frases descontinuadas contrastam com a vaidade típica de uma estrela do glam rock (o mais extravagante dos subgêneros do rock). A vaidade, inclusive, é um ponto comum a praticamente todos os personagens que passam na tela, como o judeu caçador de nazistas Mordecai Midler, o inventor da mala de rodinhas Robert Plath, o tatuador e até o seu agente na bolsa de valores. A resposta do protagonista à pergunta da garçonete sobre o fato dele já ter cantado com Mick Jagger sintetiza essa questão: “Na verdade, o Mick Jagger que tocou comigo, foi ideia dele”.
            A direção de atores é precisa. A participação de Frances McDormand como a mulher de Chey é um brinde. Juntos eles formam um casal irreverente, cuja cumplicidade da relação fica explícita no tom debochado com que fazem piadas internas. O filme se constitui de elipses bem feitas, diálogos ágeis e tiradas sagazes, que logo fisgam o espectador, suavizando certas sequências soltas ou até guinadas repentinas no roteiro. É minimamente arriscado juntar numa mesma história elementos tão díspares como um roqueiro depressivo, nazismo e road movie. Mas, por incrível que pareça, tudo vai se encaixando no decorrer do longa. O diretor e roteirista Paolo Sorrentino teve a capacidade de tocar num tema tão delicado como o nazismo, porém sob outra perspectiva, sem por isso lhe tirar a devida importância. Só o cineasta Tarantino ousou fazer o mesmo em Bastardos Inglórios. Com motivações e atitudes diferentes seus personagens buscavam vingança.
            Aqui é o meu lugar trabalha a todo tempo com a imprevisibilidade. Tudo que em algum momento é esperado logo em seguida toma outro rumo. A cena-símbolo dessa orientação é a do show do David Byrne com seu cenário móvel. O próprio pedantismo das palavas de Cheyenne é inesperado vide seu modo doce de falar. Trata-se de um filme de personagem. Cheyenne é o filme, já vale o ingresso, mesmo que a história deixe alguns furos pelo caminho.

FICHA TÉCNICA
Diretor: Paolo Sorrentino
Elenco: Sean Penn, Frances McDormand, Judd Hirsh, Kerry Condon, Harry Dean Staton…
Gênero: Drama
País: França/Itália/Irlanda
Duração:  min


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